segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ARAGUAIA



A melhor novela em cartaz atualmente é Araguaia. Enquanto Insensato Coração é aquele avião do Pedro que foi abastecido errado e caiu antes de decolar – com a exceção maravilhosa da Paola Oliveira, que para sempre será Lívia no meu coração – e Ti-Ti-Ti se arrasta, Araguaia é diferente. Araguaia tem Cleo Pires vivendo esta índia karuê espetacular, a Estela. Nunca antes neste país houve uma índia karuê assim. Apaixonada, fissurada, atravessada pela flecha do gaúcho do bem, o Solano – também flechado no que supostamente seria uma flecha karuê, mas o mistério aqui é magnífico: se a flecha não é karuê, de quem é esta flecha? Há não-karuês presentes nesta história? Mas Estela, esses dias vi de relance um banho seu no Araguaia. Ai, ai, ai. O Araguaia nunca mais será o mesmo depois deste banho. Eu nunca mais serei o mesmo. O banho de Estela foi a cereja no topo do bolo, foi um plus, um brinde, o combo, nada a ver com aquela ventania doida que volta e meia assusta, desampara. Porém, tem o outro gaúcho, o gaúcho do mal, Max – devidamente vingado pela mulher, a Madame Bovary do Cerrado, Amélia, que nome mais equívoco. Pois esta Amélia vive uma mulher de mentira de noite, no travesseiro do Max, e uma mulher de verdade de dia nos braços, na boca, nas pernas, no pelego do Léon, um não-gaúcho como que a dizer que é possível ser feliz com um não-gaúcho – tese no mínimo duvidosa... – aliás, seria pedir demais que a terrível “Falsa Mulher” do indispensável Teixeirinha fosse tocada ao menos uma vez? Mas, onde eu estava mesmo? Nas guampas do bagual, impiedosamente traído, passado para trás. Esta Bovary não perdoa – nem a outra! Serão os ares do Araguaia? As águas? Mas não há só Estela e os trovões, há também no Araguaia poções misteriosas, oferendas, e a maldição que até agora não entendi direito, vai ver porque comecei a assistir tarde, e aqueles espíritos da floresta que não descansam – é a pulsão pós-morte!! A força constante do além!! Sensacional!! E qual é o problema desta índia se apaixonar pelo gaúcho branco? Aliás, há um gaúcho negro na novela que é o avesso do negro Don Juan da novela das 8 – negro de novela das 6 ou é escravo da Isaura ou é escravo de fazendeiro, não tem jeito – ser negro na novela das 6 é uma desgraça! Mas, eu não poderia deixar de mencionar as pedras preciosas da Ametista, da Esmeralda e da Pérola, sempre a mostrar – e como mostram – seus, digamos, talentos malhados, sarados, trabalhados dia e noite, ai, ai, ai, prendas lindas, queridas a botar seus pezinhos nas águas, nos barros e nos barrancos. Falta alguém? Falta. Araguaia tem Janaína, vivida por esta esplendorosa Suzana Pires. Que atriz sensacional! Que mulher mais linda!! Cada vez que Janaína aparece, eu desapareço, eu viro o Fred, eu viro o Solano, eu viro índio karuê, eu invoco os antepassados, eu livro a maldição, eu beijo a Estela – espere. Mas não era a Janaína? Ai, ai, ai...

domingo, 30 de janeiro de 2011

ESPELHO

Autorretrato de Jorge Luis Borges aos 50 anos, cego, a pedido de Burt Britton para sua coleção, no sótão da livraria Strand em Nova Iorque.

“Ele se aproximou, segurou-a pelos ombros para lhe fazer um agrado, uma brincadeira, e nesse momento se viu refletido num espelho.”

Anton Tchekov em A Senhora com o Cachorrinho in Lendo Tchekov de Janet Malcolm. Tradução de Tatiana Belinky, Ediouro, 2005, p.197.

sábado, 29 de janeiro de 2011

CINZA


Fotografia de Bill Cunningham em sua coluna “On the street” in The New York Times, 23 de janeiro de 2011.

“Ana Serguêievna, trajando o vestido cinza que ele preferia”

Anton Tchekov em A Senhora com o Cachorrinho in Lendo Tchekov de Janet Malcolm. Tradução de Tatiana Belinky, Ediouro, 2005, p.197.