terça-feira, 31 de maio de 2011

FUSÃO

Barbara Hepworth por Jorge Lewinski/The Lewinski archive at Chatsworth in “Barbara Hepworth: Queen of the Stone Age” de Jonathan Jones in The Guardian, 2/5/2011.

O que fazer do furo? Habitá-lo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

SOLIDIFICAÇÃO

Fotografia de T Colla.

“Richard Serra disse uma vez que ele foi para a Universidade da Califórnia em Santa Bárbara para estudar literatura e aprender a surfar”.

Christopher Benfey in “Richard Serra's Mind-Expanding Sculptures”, Slate, 6/6/2007.

domingo, 29 de maio de 2011

FERREIRA

Escultura de Barbara Hepworth em frente ao museu The Hepworth Wakefield inaugurado em 21 de maio, em Yorkshire, Inglaterra. Fotografia de Sarah Lee in The Guardian, 19/5/2011.

Às margens do rio Calder,
em Yorkshire,
nasce uma rosa,
desenhada por David Chipperfield,
para abrigar, para cuidar,
de uma escultora que morreu queimada,
em seu estúdio, seu afazer,
Barbara Hepworth, o nome,
aquela que foi transformada
pelo ferro, pela pedra
em palavra.

sábado, 28 de maio de 2011

RETRATO DO FERREIRO QUANDO JOVEM

“Torse de jeune fille [I]” [Torso de uma jovem] em ônix por Constantin Brancusi, em 1922. Harvard Art Museums, Fogg Art Museum, Cambridge, the Louis Orswell Collection, 1998. Fotografia President and Fellows of Harvard College/Junius Beebe.

Fietta Jarque, do El País, foi até a Suíça encontrar o ferreiro-artista Richard Serra, na abertura da exposição genial que a Fundação Beyeler organizou das obras de Serra e do romeno, naturalizado francês, Constantin Brancusi. A exposição fica até 21 de agosto na Suíça e depois vai para o museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha. É daquelas entrevistas para se ler em voz alta nos jardins de infância, se pregar nos postes das cidades, chorar de alegria. Ela começa assim:

“Jarque – Qual é a relação do sr. ou da sua escultura com Brancusi?
Serra – Não creio que exista uma conexão paralela entre a obra de Brancusi e a minha. O que posso dizer de minha parte é que, quando era estudante, entre 1964 e 1965, tive uma bolsa de estudos de um ano em Paris. Eu já era pintor na época, mas não escultor. Fui ver a reconstrução do ateliê de Brancusi, que estava no Museu de Arte Moderna, e me senti tocado e inspirado por ele. Fui ver essa exposição vários dias e fiz desenhos de suas esculturas. Fiz esses desenhos porque para mim o desenho é a forma como o volume corta o fio das coisas. O interior se desenha e se desenha também o exterior. É nessa fina linha que o desenho ocorre. E enquanto observava o estúdio de Brancusi, me dei conta de que em seus cortes e modelos, ele desenhava com a escultura, da mesma maneira que Cézanne desenhava nas pinturas. Fiquei impressionado com essa ideia. Desde então não voltei a ver a escultura da mesma maneira. Isso foi como um despertador para mim.

Jarque – O sr. se refere à escultura abstrata de Brancusi...
Serra – Brancusi é como um manual de instruções. Ele é a austeridade e a simplicidade das formas. Mas se queres representação, ali também encontrarás. Se queres abstração, lá estará. Se queres volume, também. Ou a justaposição. E sempre está feita das formas mais simples e da imaginação, de tal maneira que eu nunca tinha visto antes. Algo ali me atraiu para sempre sem saber porque, e voltei dia após dia para fazer meus desenhos. Quando fui embora de Paris, já pensava em me dedicar à escultura. Se não fosse essa bolsa de estudos, provavelmente eu nunca teria me tornado escultor. Pois bem, isso foi há 40 anos. Se hoje me perguntam se Brancusi foi uma influência posterior, eu digo que não. Foi apenas o princípio. Foi ele quem engendrou em mim a possibilidade de fazer-me escultor. Porque a escultura consiste realmente em aceitar que se pode inventar formas. E acredito que Brancusi foi capaz de reduzir a forma a uma ideia muito simples.

Jarque – Suponho, além disso, que o estúdio de Brancusi conservado intacto parecia guardar muitos de seus segredos.
Serra – Sim, ele retinha uma aura. Você quase podia sentir a sua presença ali, embora ele já não estivesse. A atmosfera do ateliê era impressionante. Quanto a essa exposição de agora, que relaciona a obra de Brancusi com a minha, eu não diria que há nexos diretos. Mas uma das coisas que Brancusi demonstrou foi a possibilidade de retirar a escultura de seu pedestal. Eu penso na escultura Coluna Infinita, a de madeira. Brancusi cortou a peça medindo exatamente a altura do chão ao teto na galeria Brummer de Nova Iorque, em 1926. Ele mediu o espaço, no contexto. Foi algo excepcional porque depois disso ele seguiu fazendo obras sobre o pedestal. Mas essa ideia de alguém medindo o espaço no lugar da exposição, levando em conta o espaço do lugar, a paisagem de fora, me impressionou demais. Eu queria trabalhar a escultura fora do pedestal, porque quando consegue isso, consegues fazer com que o espectador veja a escultura ao nível de sua própria experiência. Se pensas em uma pintura dentro de seu marco de referência, o que está pintado permanece dentro desse enquadre. Mas em uma peça como esta [aponta o dedo para sua obra Olson], te moves, podes andar por ela, através dela, e isso muda a tua experiência em relação ao espaço. De tal modo que a peça não depende de sua imagem, mas sim do que o espectador experimenta dentro dela, ao redor dela ou desde diferentes pontos de vista.”

Fonte: entrevista de Richard Serra a Fietta Jarque in Babelia, El País, 28/5/2011.

“Olson” em aço por Richard Serra, em 1986. Exibição na Fundação Beyeler, Riehen/Basel, Suíça. Coleção do artista. Fotografia de Lorenz Kienzle.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O PAPA ESTÁ NU

Fotografia de Filippo Monteforte/Agence France-Presse-Getty Images in The New York Times, 26/5/2011.

Sem querer...querendo, o artista italiano Oliviero Rainaldi fez a melhor estátua sobre o Eu já realizada. À pedido da Igreja Católica, era para fazer uma estátua-homenagem ao Papa João Paulo II, recentemente canonizado. Um esboço foi aprovado pelas autoridades eclesiásticas e lá foi o artista com cinzel e martelo retirar da pedra o que não era pedra, à la Michelangelo. O resultado está à mostra em uma praça na estação de trem Termini de Roma – por um breve período de tempo. Ninguém gostou da escultura de Rainaldi – alguns mais radicais a compararam a um imenso mictório a céu aberto. Eu achei uma obra-prima. Sensacional!! Rainaildi esvaziou o Papa – e não só o Papa. Ele demonstra que no interior do Eu, naquilo que as pessoas adoram chamar de “íntimo”, nas “profundezas” do Eu, o que existe é o mesmo que no meio de uma cebola, após se tirar camada por camada: o nada. Daí o fato que se conhece bem na psicanálise: há que recobrir o nada com o manto do Eu, um manto tecido de identificações, de histórias da carochinha, de fábulas, importantíssimas, vitais em um determinado momento da vida, para dar suporte, dar o peso de uma armadura, dar uma roupa, dar uma falsa unidade, uma ilusória unidade a isso que chamamos de Eu e que, no resto da vida, pode se tornar um imenso fardo de carregar, pesado demais, chato demais, incômodo demais. É por isso que Freud comparou uma análise a uma cirurgia, uma operação de subtração. É o que Rainaldi mostra em sua obra: o Eu está nu debaixo da capa. Ora, a nudez que assusta o Vaticano desta vez não é a sexual. Se trata de uma nudez mais radical. A nudez do Eu.

O esboço aprovado. Fotografia Jpeg in Corriere della Sera, 24/5/2011.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

NOSSOS DESTINOS

Fonte: primeira página do Globo, 26/5/2011.

Em Brogodó, o Rei voltou para proteger a Flor. Só falta definir quem é o Timóteo. Timóteo é o Leonardo da novela das seis, ou seja, é o mal encarnado, é o mal de terno e gravata, é o mal de colarinho branco, é o mal sedutor. Ontem ele bradou contra a bela advogada que à noite vira Diadorim, vira Fubá para conseguir abraçar seu amado Jesuíno, a frase-emblema, a frase-símbolo que define o perverso: “eu sou a lei”. Lá está o filhinho do papai de um coronel falecido renegando a filiação e fazendo de conta que é ele o pai, o filho e o espírito – e não o Jesus-íno – é ele o prefeito, é ele o governador, é ele o Rei – aliás, genial foi o sobrenome que inventaram para Timóteo: Cabral!! Mas, afinal de contas, quem é o Timóteo do governo Dilma Rousseff? Quem é a lei encarnada? Quem é o que pode tudo e não deve satisfações a ninguém? Está aberto o concurso neste blog. Que minhas estimadas leitoras e meus queridos leitores se pronunciem. A hora é grave. A Flor já murchou esses dias em que esteve com pneumonia – é que os ares de Brogodó estão empestiados. Só Miguézim viu o invisível: “o vice vem aí”. Se isso acontecer, eu entro para o bando do capitão Herculano. Eu e Lilica.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

AO MAR


Em Paris, ao sul da praça Pigalle, na rua Navarin, n. 8, o Hotel Amour. Fotografia de Marlene (Berlim).

“Depois, a cada meio-dia, eles se encontravam na avenida beira-mar, lanchavam juntos, almoçavam, passeavam, se encantavam com o mar.”

Anton Tchekov em A Senhora com o Cachorrinho in Lendo Tchekov de Janet Malcolm. Tradução de Tatiana Belinky, Ediouro, 2005, pp.188.