segunda-feira, 9 de maio de 2011

HÁ DIFERENÇA SEXUAL

Fotografia de Pete Souza, fotógrafo oficial da Casa Branca, na “Situation Room” [Sala de Controle] da Casa Branca no dia em que o terrorista Osama Bin Laden foi morto.

Enquanto a fanfarronice masculina do planejamento, da operação, das armas, da elite da elite dos SEALS, a força mais especial treinada sob o lema “o único dia fácil foi ontem” se impõe como vencedora, a intrigante presença de Hillary Clinton na fotografia do dia D contra o terrorismo, na sala de controle da Casa Branca, em Washington, acompanhando em tempo real a morte de Bin Laden, com a mão na boca – depois ela revelou que cobriu a boca por causa de uma tosse devido à uma de suas alergias de primavera – revela uma Madonna que não reconhece seu filho mas, ainda assim, o vê de modo diferente dos demais naquela sala predominantemente masculina. A tosse de Hillary Clinton merece destaque. Ela fala da diferença sexual, ela diz mais do que parece. Um outro dado muito interessante nesta fotografia que o genial José Miguel Wisnik em sua coluna do Globo de sábado comparou à Velásquez e sua obra “As Meninas”, é que aquilo que não nos é mostrado, não nos é dado a ver, trata-se de uma voz. Da voz do diretor da CIA, que do outro lado do rio Potomac, em Langley, na Virgínia, sede central da CIA, relatava o ataque à casa de Bin Landen. Ora, que todos nesta sala estejam como que subordinados à voz deste Supereu maluco e desgovernado que é a CIA, causa perplexidade. É como se o poder civil de um presidente estivesse de lado, aliás como a fotografia mostra muito bem. Na cadeira do presidente não está o presidente, mas sim o general da Força Aérea e comandante das Forças Especiais, Marshall B. “Brad” Webb. Aliás, cabe aqui uma brincadeira séria: para combater a rede al-Qaeda, nada melhor que um Webb [Rede]!!
Ora, a tosse de Hillary Clinton aponta para esta desarmonia evidente, mas não falada. A tosse fala, a tosse interrompe o gozo masculino, a tosse pede passagem, a tosse questiona, a tosse faz mancha neste quadro. A propósito, só há mais uma mulher na foto, Audrey Tomason, diretora da luta contra o terroristmo, em pé. Mas é Hillary Clinton quem tosse. Ela é a encarnação da feminilidade nesta tosse. Ao contrário do que pode parecer, sua tosse não é fingimento. Ela revela outra fragilidade em questão. A fragilidade de um poder civil nas mãos do poder militar.

“- Hillary Clinton disse que viveu os 38 minutos mais intensos da sua vida.
- B
ill Clinton respondeu: “Então comigo foi fingimento?”
Fonte: Daniel Paz e Rudy in Página 12, Buenos Aires, 9/5/2011.

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