Fonte: fotografia de Gustavo Miranda in O Globo, 6 de outubro de 2010.
Na maravilhosa fotografia de Gustavo Miranda no Globo de hoje, reencontro o ex-governador do Paraná, Roberto Requião. Ele não foi o único sem gravata, sem paletó, havia mais gente lá assim, mas na fotografia Requião não é uma Maria-vai-com-as-outras. Pelo contrário, enquanto uma parte se volta para o espelho-Lula, o espelho-Narciso, o ideal almejado, o ideal perseguido, o ideal a ser alcançado – é claro, Lula foi o grande vitorioso deste primeiro turno, alguém duvida? – Requião olha para o fotógrafo, olha para esse lugar-outro, fora do espelho, fora do lago, mas no tapete vermelho. Aliás, não há ninguém pisando fora do tapete vermelho. É o tapete mágico da política, o tapete dos sonhos, o tapete do poder. Porém, fiquei triste quando vi, no aeroporto de Curitiba, Roberto Requião caminhando para Brasília. O tão poderoso governador do Paraná já não era mais governador, o tapete vermelho já não era tapete, o vermelho já não era muito vermelho. Agora, quanta diferença entre Requião e esse vizinho que me parece ser o senador recém-eleito pelo Ceará, Eunício Oliveira. Há uma abismo aí. E um problema de matemática. Ontem mesmo, a candidata Dilma Roussef disse que ninguém sai, só entra na campanha dela – e falou em adição. Ora, como somar Roberto Requião com Eunício Oliveira? Eu até entendo somar Roberto Requião com Ciro Gomes, que, felizmente, foi chamado para participar da coordenação da campanha de Dilma. Roberto Requião e Ciro Gomes somam, fazem diferença, não são chatos, não são previsíveis, não são vaquinhas de presépio. Agora, os demais aliados, o resto, como realizar uma soma dessas? Coube a Lula fazer isso. E esse foi o maior mérito de seu governo. Conciliar o inconciliável, reunir o não-reunível, transformar diferença em trabalho. Que Dilma não esteja presente nesta fotografia é uma falsa impressão. Dilma está em Lula, condensada, ao modo do sonho, misturada, é ela ali como Lula. Esse, aliás, o maior erro de José Serra no primeiro turno. Uma de suas musiquinhas dizia, “sai o Lula e entra o Zé”. Ora, com Dilma Lula nunca vai sair. Eis aí o inconsciente à mostra em sua frase, não sai ninguém, só entra. Maravilhosa frase que fala de um desejo, fala desse impossível necessário, desse impossível fundamental que é o de tentar o ideal, se aproximar dele, a adição dos contrários, a adição dos diferentes, o que, em suma se chama um país.
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