sexta-feira, 22 de abril de 2011

MEDITERRÂNEO

Rio da Várzea em Carazinho, após cheia. Fotografia de Francine Oliveira in Diário da Manhã, 31/3/2011.

“Antico, sono ubriacato dalla voce
ch'esce dalle tue bocche quando si schiudono
come verdi campane e si ributtano
indietro e si disciolgono.
La casa delle mie estati lontane
t'era accanto, lo sai,
là nel paese dove il sole cuoce
e annuvolano l'aria le zanzare.
Come allora oggi in tua presenza impietro,
mare, ma non più degno
mi credo del solenne ammonimento
del tuo respiro. Tu m'hai detto primo
che il piccino fermento
del mio cuore non era che un momento
del tuo; che mi era in fondo
la tua legge rischiosa: esser vasto e diverso
e insieme fisso:
e svuotarmi così d'ogni lordura
come tu fai che sbatti sulle sponde
tra sugheri alghe asterie
le inutili macerie del tuo abisso.”

“Antigo, sou inebriado pela voz
que sai de tuas bocas ao se abrirem
como verdes campanas e se jogam
para trás e dissolvem.
A casa dos verões meus, distantes,
estava ao pé de ti, bem sabes disso,
lá na terra onde o sol é escaldante
e o ar se anuvia com os mosquitos.
Como então petrifico em tua frente,
mar, porém não mais digno
me creio hoje da solene advertência
do teu alento. Logo me disseste
que o diminuto fermento
do meu coração era só um momento
do teu; que em mim estava no fundo
tua arriscada lei: ser vasto e diverso
e fixo ao mesmo tempo:
e esvaziar-me assim de todo dejeto
como fazes tu que atiras nas bordas
com cortiças algas astérias
os destroços inúteis de teu abismo.”

Trecho do maravilhoso “Mediterrâneo” de Eugenio Montale in “Ossos de Sépia”. São Paulo: Cia. das Letras, 2002, pp. 114-115. Tradução de Renato Xavier.

Um comentário: