segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

HOON ABHI MAIN JAWAAN



O filme do ano é de 1954. Vem da Índia e se chama “Aar-Paar” [algo parecido com “isso ou aquilo”, sensacional título!!]. A direção é de Guru Dutt, com músicas de O.P. Nayyar e letras de Majrooh Sultanpuri. A história não interessa – na Índia, não é o sentido o que conta. O que conta é essa magnífica Geeta Dutt, meio bêbada, meio édipa, a arrastar uma asinha, uma coxinha, um denguinho para Kalu, que, pasmo, não consegue desgrudar de seu cigarro, sua muleta, seu amparo diante dessa diferença ambulante, serpenteante, Eva-de-novo, que lhe cai pelos buracos dos ouvidos, dos olhos, enfim, digamos de modo explícito, por todos os buracos. E a música, maravilhosa, “Hoon Abhi Main Jawaan”, mostra a imensa riqueza do triplo sentido hindi, do quádruplo sentido, das tretas, ai, ai, ai, dessa pergunta formidável, de quem sabe o que vai acontecer amanhã? É de arrepiar! E aquela outra, sobre pegar as flores que se deseja para fazer a primavera valer a pena? Essa não vou nem comentar. É demais. É o outro significado de Aar-Paar, pegar ou largar. Espere. O hífen entre Aar e Paar não significa só “ou”. Pode significar “e”. Em hindi um hífen não é só um hífen – ele pode ser uma porta que se fecha mas, magnífico, que também se abre. Adão e Eva.

2 comentários:

  1. Oi, professor!

    Gosto tanto dos teus textos. Leio seu blog há séculos. (nossa...)

    Se você quiser, visita meu bloguinho. haha Eu vou gostar. :)

    Até semana que vem! :)

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  2. Cara Noelle, adorei saber desse "há séculos" - é mais uma prova de que o tempo cronológico é completamente subvertido, revirado, transtornado, desnorteado pelo tempo de cada um, o tempo lógico. Obrigado por estas palavras tão generosas. Um abraço, Ferrari.

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