domingo, 6 de fevereiro de 2011

RIO DE JANEIRO


Trem da Central entre as estações de Quintino e Cascadura. Fotografia de Custódio Coimbra e reportagem de Renato Lemos in Revista O Globo, 6/2/2011.

O que é que o Rio de Janeiro tem? Tem esse homem ou essa mulher ou esse velho ou essa viúva ou esse guri ou essa atazanada ou esse torto que vai lá, em um pedaço dessa pedra, no meio do caminho, uma passagem, vai lá, no entre, pela madrugada, vai lá, sol a pino, vai lá, de tardezinha, vai, alvorada lá, no ventre, e escreve, a pé, e sussurra, nos dedos, e endereça, de joelhos, e acaricia, com a língua, e mete o desvio, e pinta aos jatos, e esculpe com a carne “amo minha preta”. É isso o Rio de Janeiro. Não há cidade do mundo onde se vai encontrar esse “amo minha preta”. É só por isso que eu volto sempre para o Rio de Janeiro. Mentira. É só por isso que eu nunca deixei o Rio de Janeiro. Eu também escrevo, todos os dias, de todas as maneiras, amo minha preta.

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