domingo, 17 de abril de 2011

AMARCORD

Pelas ruas do bairro de North End, em Boston, no inverno. Fotografia de William Albert Allard na reportagem “Grande Famiglia di Boston” de Erla Zwingle in National Geographic Brasil, outubro de 2000.

“No salão Johnny&Gino, situado na rua Hanover [no bairro North End, em Boston], Johnny “Sapato” Cammarata dá os últimos retoques no corte do cabelo de Rico Federico. “Eu nasci aqui”, comenta Johnny com o carregado sotaque bostoniano, “mas em casa tinha de falar siciliano se quisesse comer” (…) Por que um barbeiro tem o apelido de Sapato? Porque seu pai era sapateiro, claro. “Toda a nossa família tinha esse apelido: Joe Sapato, Frankie Sapato”, explica. Enquanto fala, maneja a tesoura. “Meu irmão Joe estava na classe para alunos especiais. Meu pai sempre lhe dizia: 'Joe, eu me orgulho de você, está na classe especial'. Eu me arrebentava de rir. E Joe me ameaçava: 'se contar a ele, mato você'. Mal sabia meu pai que ele estava na classe dos alunos problemáticos...” A disciplina paterna? Rápida e precisa. “Meu pai me batia na cabeça com o martelo”, revela Johnny. “Ainda bem que era sapateiro e não açougueiro! Eu tinha de limpar a oficina. “Tudo bem, já vou”. E não ia. Pá! Martelada na cabeça. “Agora vá procurar seu tio”. Meu tio era barbeiro. Ele cortava um limão e o espremia sobre minha cabeça. Não sei como sobrevivi...Eu adorava meu pai.”

Fonte: Erla Zwingli in Grande Famiglia di Boston, na National Geographic Brasil, outubro de 2000.

3 comentários:

  1. Texto maravilhoso. E a gente se pergunta como Joe: não sei como sobrevivi.

    ResponderExcluir
  2. Querida Marta, eu gosto de pensar no avesso: foi justamente por causa disso que a vida floresceu. Ele era alguém para o pai. O problema está quando se é ninguém. Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  3. Legal! Pensar no avesso da coisa faz a beleza aparecer.

    abraços

    ResponderExcluir