sexta-feira, 8 de abril de 2011

HORROR

Fonte: O Estado de São Paulo, 8/4/2011.

Seu nome é Steve Jobs. Ou Bill Gates. O que quer dizer isso? Quer dizer que após uma grande tragédia, vem outra chamada “sentido”, “explicação”, “causa”. Pior. Vem o “especialista”, o “aplicador de testes”, o “sabe-tudo”, o “doutor”. Por que o atirador de Realengo fez isso? Não sei. Ele morreu, não pode mais falar. E, cuidado, mesmo se vivo, nada indica que falaria se preso – nem sob a infame prática da tortura. Querer agora “interpretar” o assassino a partir de sua timidez, falta de namorada ou o uso da internet é uma piada perigosa. Por esse crivo, Steve Jobs e Bill Gates deveriam estar atrás das grades. Como prever isso? Não há previsão possível. Nem retirando todas as armas das ruas, nem aplicando testes fajutos e picaretas elaborados “em Harvard”, nem limitando a internet a uma hora por dia, com sites controlados 24 horas por um novo ministério a ser criado, nem realizando o sonho da indústria farmacêutica que é o de distribuir suas pilulazinhas mágicas através das tubulações de água de uma cidade. Nada. Um ato leva muito tempo para ser construído e tem muitas causas. Saber por que alguém em vez de inventar um I-Pad inventa um assassinato horroroso depende desse alguém querer falar disso. Não é o teste de sangue que vai revelar, não são as partes grandes ou pequenas do genoma. As células, assim como as rosas, não falam. Tampouco serve falarem no lugar do sujeito. Mas aí, já é pedir demais àqueles que fazem desse mau costume profissão.

6 comentários:

  1. Lindo texto. Ainda ontem, em sala de aula, minhas alunas estavam a falar da timidez do rapaz. Os tímidos que se cuidem...

    abraços!

    Marta

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  2. SIM! Seu texto merece uma página no O Globo e já está sendo declamado aqui em casa para os que chegam! Beijos.

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  3. Estava esperando seu post.

    Abraços.

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  4. Querida Marta,
    Obrigado. Um grande abraço, Ferrari.

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