O pintor Lucian, neto de Sigmund Freud, retrata seu neto Albie, um dos três filhos de sua filha Esther, em seu estúdio em Londres. Fotografia de David Dawson, cortesia de Hazlitt Holland-Hibbert na reportagem de Enrico Franceschini sobre Esther Freud in La Repubblica, 5 de setembro de 2010.
O bisavô, Sigmund Freud, inventou a psicanálise. O avô, Ernst, foi um grande arquiteto. O pai, Lucian, é um dos maiores pintores vivos. Ela, Esther, filha de Lucian, neta de Ernst e bisneta de Freud, é escritora. Enrico Franceschini foi a Londres escutar Esther Freud, além de presentear o mundo com esta carta de Freud a seu filho Ernst, em 1923 (abaixo reproduzida). Sensacional! De seu pai Lucian, com a fama de ter tido mais de 40 filhos, ao bisavô, Sigmund, para o qual ela declara não saber muito bem qual a influência que tem em sua vida, a despeito de ter se mudado recentemente para uma casa vizinha ao Museu Freud em Hampstead, Londres, Esther fala sem saber o que diz, diz mais do que gostaria, e recorda esta lembrança que seu pai gostava de contar sobre Freud: “Meu pai tinha 17 anos quando Sigmund Freud morreu. Ele lembrava do avô dizendo que ele era muito divertido. Tirava as dentaduras para ele e seus irmãos rirem e fazia piadas o tempo todo”. Franceschini conclui assim essa epifania dominical: “Às suas costas [de Esther], pendurada na parede, está uma grande fotografia: retrata seu pai, Lucian, pintando o retrato de seu filho, Albie. Em um ângulo da foto, no chão, se vê uma guimba de cigarro: “É a minha, eu estava sentada no chão do estúdio do papai, em Notting Hill, e lia o Hobbit para meu filho, para distraí-lo do longo tempo que estava sentado”. Ela silencia olhando o retrato. É o retrato de seu pai, o grande pintor? Ou de seu pai que retrata o seu filho, o mais pequeno dos Freud, ainda que traga o sobrenome do pai? Ou então quem sabe o verdadeiro sujeito desta imagem é aquele fora do quadro, é aquele que olha do exterior, é ela, Esther Freud? “Talvez este seja o retrato de todos nós. Eu não pensei que mais de uma geração de nossa família estivesse reunida juntas, na mesma casa”. Casa Freud. A casa que Esther enfim encontrou e parou então de sonhar [com ela]”. Pois há um outro sujeito bem explícito nessa fotografia: Sigmund Freud. Da psicanálise à arquitetura, à pintura, à literatura. Transmissão.
“A escola imbeciliza”. Na carta a seu filho Ernst, a finíssima ironia de Freud para com a educação: “Em casa, tudo bem. Anna é sem dúvida muito alegre, ainda que não veja em seu futuro nada que deseje. Heinele cresce bem, em geral, e nós só tememos se sua escola não vai conseguir transformar em imbecil também a esta criança. Harry se recupera da icterícia por causa de uma gripe”. Outro detalhe, a marca registrada nas despedidas de Freud em suas cartas: “De resto, Viena é muito repugnante”. Fonte: carta de Sigmund Freud a seu filho Ernst, em 5 de fevereiro de 1923 in La Repubblica, 5 de setembro de 2010.
Nossa! Que arrepio ler tudo isso! Ui! Viena é repugnante. A escola imbeciliza! Já fui convidada a me retirar da universidade, do departamento de educação onde estou porque fiz essa afirmação. Ui! Que coisa fantástica! Tô arrepiada de emoção! Vou levar ao meu Blog! Posso?
ResponderExcluirabraços
Marta
Querida Marta, é sempre uma honra fazer parte do trabalho tão bonito que você desenvolve em seu blog. Agradeço-lhe sempre! Sobre Viena, Freud tinha uma relação de amor e ódio muito peculiar. Sua cidade dos sonhos era Roma - era para lá que ele ia umas sete vezes por ano, porém, só saiu de Viena quando quase assassinado pelos nazistas - aliás, pelas mãos de uma mulher, sua analisante, a princesa Marie Bonaparte. Sobre a educação, Freud não perdoava a absoluta ignorância das escolas, universidades e professores em nada querer saber da agressividade do supereu e da sexualidade da pulsão. Para ele, uma educação só baseada na razão era uma caminho para a barbárie. E olha que ele pensava isso sem poder imaginar o que foi a II Guerra nem esse século da pasmaceira (a expressão maravilhosa é do Plínio de Arruda Sampaio) em que capengamos. Um grande abraço.
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