domingo, 14 de novembro de 2010

DA ITÁLIA PARA O MUNDO


Desenho de Milo Manara.

Milo Manara esteve no Rio de Janeiro esses dias e deu de presente para o mundo uma de suas mulheres inesquecíveis, com as cores da bandeira brasileira e de braços abertos sobre todos nós. É um dos artistas imprescindíveis de nossa época. No indispensável La Repubblica de hoje, duas páginas imortais escritas por Michele Smargiassi sobre esse homem que ama as mulheres. Dois trechos, duas pérolas preciosas, maravilhosas:

“As Vênus de Milo são sonhos adolescentes, fadinhas eróticas da boa-noite, fantasmas de tinta, ninfas impossíveis, mas todas, todas elas ardentemente procurando existir. ‘Em Copenhague houve um festival de quadrinhos e de repente, na fila de autógrafos, aparece uma adolescente, vestida com um poncho, e que me perguntou: ‘Estás vendo? Debaixo estou nua. Me desenha?’. Nas longas filas que se formam em frente a Manara quando autografa seus livros, as mulheres são a maioria. O que ele responde? ‘E todas querem o desenho, todas me dizem: ‘eu pareço com aquela que você desenha, não percebes?’ Mas o problema não é que elas existam no mundo, mulheres que parecem saídas de seus quadrinhos, ‘ainda mais belas que lá’. Não: o problema é que elas querem entrar dentro dos quadrinhos, das histórias. ‘Eu recebo milhares de pacotes com fotografias de pessoas até muito famosas, não posso dizer quem. Fotos até um pouco constrangedoras de suas mulheres. Eles querem que eu as transforme em meu desenho”.

Sensacional! Mais adiante, uma linda definição de erotismo:

“Observe aqui, esta é a Vênus de Dresden de Giorgione. Ele pinta uma esplêndida mulher nua, não é mesmo? Mas aquilo que conta são as pregas do lençol debaixo do peso de seu corpo. É isso: nos meus desenhos, se uma mulher está sentada em uma cadeira, deve ser uma cadeira verdadeira, uma cadeira em que se pode sentar, a melhor cadeira que se pode desenhar. Porque se queres fazer quadrinhos pornográficos, basta uma sequência de corpos nus. Mas o erotismo está ao redor, em torno do nu. Mas é certo [e Manara sorri ironicamente neste momento] que não espero ser lembrado como um desenhista de magníficas cadeiras. Porém, se o meu sucesso tem um segredo, é este.”

Fonte: Michele Smargiassi in La Repubblica, 14 de novembro de 2010.

Epifânicas palavras. Para quem quiser se perder nas mulheres de Manara, o Brasil já tem excelentes edições. Três delas mudam a vida do sujeito para sempre: o maravilhoso “Clic 1”, o magnífico “Bórgia” em três luxuosos volumes e o atordoante “Verão Índio”, em que Manara trabalha junto com o genial Hugo Pratt, todos da editora Conrad. São para chorar de alegria o resto da vida – por isso recomendo ler e mostrar, principalmente mostrar, essas obras-primas já no berçário!

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