domingo, 20 de março de 2011

AURORA DA ODISSÉIA

Hillary Clinton chegando ao Palácio do Eliseu em Paris, horas antes do presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciar o início dos bombardeios à Líbia. Fotografia de G. Fuentes/Reuters in El País, 20/3/2011.

Eu compartilho do júbilo, da alegria e do orgasmo de Hillary Clinton. Foi o ex-presidente Ronald Reagan – que ganhou uma homenagem sensacional do historiador da direita lúcida, da direita inteligente, da direita humana, Paul Johnson em seu livro divertidíssimo “Os Criadores” - que diagnosticou de forma precisa quem é o ditador de turbante, o fascistinha de Agadir Muamar Kadafi: “cachorro louco”. Excelente! A pergunta incômoda, da qual essa direita foge como o diabo da cruz, é por que a águia deixou o cachorro ficar tanto tempo no poder. E aí a resposta dói. Dói porque revela algo do perguntador que ele não gostaria que fosse mostrado, que fosse revelado, que viesse à luz do dia – daí o pavor que a psicanálise gera nesse país. É que esta águia não é só águia, ela é também morcego. Isso, convenhamos, é insuportável. O cachorro louco ficou no poder tanto tempo porque ele nos servia, ele nos pagava, ele nos era necessário. O exemplo mais espetacular disso é a relação amorosa entre a “inteligência” universitária européia e norte-americana com o animal em questão. Eis que vem à luz em um século longe demais das Luzes, a cegueira notável da London School of Economics em conceder o título de doutor ao filho do ditador, digamos então, ao cachorrinho louquinho, a partir de uma tese totalmente falsificada, plagiada, copiada. Mais: a excelente
The Economist, em sua edição de 12/3/2011, descobriu que até o guru de Harvard, o mitológico Michael Porter, autor da nova bíblia “Vantagem Competitiva”, aceitou o agrado monetário, o afago pecuniário do totózinho alucinado para fazer um plano de reaproximação entre a Líbia e o ocidente – e ele não foi o único. Luciana Coelho trouxe na Folha de São Paulo de 7/3 a notícia impressionante de que uma consultoria norte-americana, com sede em Cambridge, Massachusetts, a Monitor Group, trabalhou por mais de 4 anos para o regime do cachorrão com o objetivo de ajudá-lo a “polir a imagem do país e da sua própria perante o mundo”. Entre os flanelinhas contratados para o polimento estão o professor Joseph Nye de Harvard e o professor Anthony Giddens da reincidente London School of Economicsnaugthy boy. Especula-se que a benesse, o capilé, a sinecura, o benefício tenha girado em torno de US$ 250 mil dólares por mês! Nunca antes se pôde repetir tão bem aquele adágio latino terrível, “pecunia non olet”, dinheiro não cheira. Ora, talvez por isso o ex-presidente Lula não tenha ido almoçar com Obama em Brasília. É que nesse zoológico, o Brasil precisa pensar sobre o lugar que lhe é designado versus o que deseja ocupar. Bem ao contrário do Napoleão de opereta da França que foi o primeiro a anunciar a operação “Aurora da Odisséia” - que nome horroroso. Mas aí, subitamente, percebi qual é o papel da França nisso tudo: foi escolher o nome do bebê. Já houve a “Tempestade no Deserto” - isso só aqueles grosseiros ianques do Texas para batizar. Agora não. Os franceses-chanéis, os franceses-sorbonnes não podem se contentar com essa pobreza patronímica. Daí essa brilhante, essa reluzente, essa cheirosa homenagem que Homero fugiria correndo, “Aurora da Odisséia”. Mas foi só aí que eu entendi o orgasmo de Hillary. Odisséia é aquela história sobre o herói que volta para casa. Está escutando isso Bill?

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