terça-feira, 8 de março de 2011

PAI


Apresentação desta mulher-deusa-ninfa Beth Carvalho – que coisa mais linda! Composição de Aílton, Cesinha Maluco, Alemão do Cavaco, Rifai, Baiano, Xavier e Pê. Intérpretes Luizito, Zé Paulo Sierra e Ciganerey.

A Mangueira me fez chorar. Do início ao não-final. Não há final para isso. Houve um instante, uma passagem efêmera, em que a bateria da Mangueira fez uma paradinha e, quando retomou, repetiu, voltou, era o amanhecer. O som do amanhecer. Inesquecível. Vi estrelas, ouvi sussurros, toquei no infinito. Que letras magníficas. Elas se combinam, se entrelaçam, parecem aqueles fios de cabelo, aqueles cachinhos dourados da Vila Isabel – outra escola que me fez chorar. O samba começa com esse “traço o meu passo no compasso”. Não é lindo isso? “Trilhei ruas e vielas”, demais, “procurando harmonia, encontrei a poesia”. Aqui é preciso parar. A poesia é o avesso da harmonia! Querendo uma, achou a Outra. O que fez esse homem diante dessa rara felicidade? Ele já não comandava nada, descontrolou-se, entregou o que não tinha, fez-se qualquer coisa, foi vivido, atordoado, fera ferida – ai, aqui já é a Beija-Flor -, e lá se foi para essa boemia, uma metáfora para o limite do dizível, do contável, do narrável, como esse buraco quente da vida vagabunda, da vida errante, da vida claudicante de quem, atravessado, partido, ainda pisa em folhas secas, meio surdo, meio ouvinte, de morro em morro – a única certeza -, a dor, musicada, a dor, letrada, a dor que, no cadinho desse ferreiro, vira adoro. Esse foi Nelson Cavaquinho. Esse é meu pai.

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