sexta-feira, 27 de agosto de 2010

UM MAR DE ROCHA

O rosto de Florencia Ávalos, um dos 33 mineiros soterrados, visto na tela de uma televisão no acampamento dos familiares na mina San José, no Chile. Fotografia AP in El País, 27 de agosto de 2010.

“Señor presidente, nosotros necesitamos que no nos abandonen. Como mineros, los 33 que estamos aquí, bajo un mar de roca, estamos esperando que todo Chile haga fuerza para que nos puedan sacar de este infierno” [a resposta de Luis Urzúa, o chefe de turno dos 33 mineiros soterrados no Chile à pergunta do presidente do Chile, Sebastián Piñera, sobre o que eles necessitavam – fonte: F. Peregil in El País, 26 de agosto de 2010].

Um mar de rocha. Nem Dante Alighieri conseguiu imaginar isso no Inferno. Lá está a selva escura, os que ardem de desejo sem a esperança de saciá-lo, o negro vendaval reservado aos pecadores carnais, a chuva gélida, pesada, imutável que cai sobre os gulosos, as águas ferventes mais adiante, as turbas demoníacas em Dite, o rio de sangue chamado Flegetonte para os assassinos e tiranos, as almas nuas sobre um areal fervendo sob a chuva de labaredas, os abismos, o Malebolge, dez covas malditas, fossos, cloacas, o piche quente, poços escuros, o gelo atroz no centro da Terra. Mas não há mar de rocha em Dante. Isso que acontece no Chile está além de Dante. Um mar de rocha, um oceano de pedra. Dói escutar, dói imaginar isso. Mar de rocha. Insuportável. Um mar de rocha.

Um comentário: