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sábado, 11 de junho de 2011

ÁRABE

Em um vilarejo próximo à cidade de Khamis Mushayt, na Arábia Saudita. Fotógrafo não identificado. Publicada in Mail Online, 19/5/2008,

Quem conta é Elsa Fernández-Santos, em artigo belíssimo, primoroso, de chorar de alegria, a partir do que ouviu de Maria Kodama sobre Jorge Luis Borges:

“Se sabe muito pouco sobre a intimidade de Borges e menos ainda sobre seus últimos dias de vida. A viúva, Maria Kodama, aproveitou sua presença dias atrás na Casa América para revelar, a uma legião de fiéis leitores borgianos, alguns detalhes preciosos e pouco conhecidos disso: 'Para Borges, a intimidade era sagrada. Ele se autodenominava um cavaleiro do século XIX. E foi esse pudor que o fez decidir morrer em Genebra. Ele não queria ver sua agonia exposta em praça pública em sua cidade [Buenos Aires]', relatou Kodama. Como prova de seu insaciável e legendário apetite intelectual, Kodama recordou que o escritor 'passou os últimos dias de sua vida estudando árabe'. 'Ele queria que continuássemos nossos estudos de japonês, mas não encontrei nenhum professor de japonês a domicílio. Buscando o professor de japonês, vi o anúncio de um egípcio de Alexandria que ensinava árabe. Borges ficou muito entusiasmado pela ideia. O chamei imediatamente, sem perceber que já eram 11 da noite e que, na Suíça, isso é como 4 horas da manhã no resto do mundo, e então lhe dei pelo telefone todas as explicações imagináveis, porque não podia aceitar um não como resposta. Eu estava desesperada. Combinei com ele o final de semana no hotel. Quando lhe abri a porta e ele viu Borges, começou a chorar: 'Por que não me disse?', ele me perguntou soluçando. 'Li toda a obra de Borges em egípcio'. Eu não lhe disse nada porque queria que fosse o destino a decidir, não queria que ele viesse sabendo que as aulas seriam para Borges, preferia que ele pensasse que eu era apenas uma mulher louca. Aquele professor dedicou a Borges horas belíssimas de estudo em seus últimos dias, desenhando em sua mão as preciosas letras do alfabeto árabe. Bebíamos chá, falávamos. Foi divino'. Borges morreu em 14 de junho, há 25 anos. E agora sabemos que entre todos os saberes que se extinguiram com ele, estava também a semente da língua árabe.”

Fonte: Elsa Fernández-Santos in Borges se agranda después de Borges, El País, 11/6/2011.

domingo, 22 de maio de 2011

CRISTINA

Como é bonita Cristina Kirchner. Sempre que a vejo, fico emocionado. Não consigo escutar suas ideias, não consigo acompanhar suas palavras. Só consigo dizer sim, votar sim, fico hipnotizado por Cristina Kirchner. Em dois artigos brilhantes, um de Fernanda Zafari e o outro de Léo Gershmann, Zero Hora reflete hoje sobre o que diz o luto de Cristina. Seu marido morreu em outubro de 2010 e, desde então, ela nunca mais apareceu sem estar de preto. Fernanda esclarece que ao se vestir de luto, é como se ela mantivesse vivo o legado do marido, como se afirmasse que o “kirchnerismo” vive. Por outro lado, em se tratando de Argentina, há uma sombra sobre o Eu de Cristina que se chama Evita Perón, outra morta a continuar viva neste país. Parece que enquanto o Brasil não entra em trabalho de luto pelos seus mortos, a Argentina não consegue sair dele. Léo Gershmann analisa o apego dos argentinos à morte. Ele cita a piada genial sobre a mãe argentina de origem italiana que diz ao filho, na hora de comer: “coma, ou eu te mato”, à diferença da mãe argentina judia que consegue ir além da italiana: “coma, ou eu me mato”. Sensacional! Gershmann também diz que as próximas eleições de 23 de outubro possivelmente serão entre Cristina Kirchner contra Ricardo Alfonsin, filho do ex-presidente já morto Raúl Alfonsin. Ele termina assim seu artigo:

O próprio ex-presidente Juan Domingo Perón, morto faz quase 37 anos, é exemplo do culto à morte na Argentina – até suas mãos foram surrupiadas do corpo. Também houve o caso do embalsamamento e desaparecimento do corpo de Evita Perón, sua mulher e tida como uma santa popular. Já houve vários pedidos de exumação dos restos de San Martín, o herói da independência argentina, para saber se ele era filho de uma índia. Agora, Néstor e Raúl entram no rol dos mortos que vivem mais do que nunca, assim como o ídolo Carlos Gardel, que muitos dizem estar cantando “melhor a cada dia”.”

Fonte: Léo Gershmann in O Marketing da Morte, Zero Hora, 22/5/2011.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

USEIRO E VEZEIRO


“- Acusam o chefe do FMI de estupro e assédio sexual.
- Contra quais países?”

Fonte: Daniel Paz e Rudy in Página 12, Buenos Aires, 19/5/2011.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

HÁ DIFERENÇA SEXUAL

Fotografia de Pete Souza, fotógrafo oficial da Casa Branca, na “Situation Room” [Sala de Controle] da Casa Branca no dia em que o terrorista Osama Bin Laden foi morto.

Enquanto a fanfarronice masculina do planejamento, da operação, das armas, da elite da elite dos SEALS, a força mais especial treinada sob o lema “o único dia fácil foi ontem” se impõe como vencedora, a intrigante presença de Hillary Clinton na fotografia do dia D contra o terrorismo, na sala de controle da Casa Branca, em Washington, acompanhando em tempo real a morte de Bin Laden, com a mão na boca – depois ela revelou que cobriu a boca por causa de uma tosse devido à uma de suas alergias de primavera – revela uma Madonna que não reconhece seu filho mas, ainda assim, o vê de modo diferente dos demais naquela sala predominantemente masculina. A tosse de Hillary Clinton merece destaque. Ela fala da diferença sexual, ela diz mais do que parece. Um outro dado muito interessante nesta fotografia que o genial José Miguel Wisnik em sua coluna do Globo de sábado comparou à Velásquez e sua obra “As Meninas”, é que aquilo que não nos é mostrado, não nos é dado a ver, trata-se de uma voz. Da voz do diretor da CIA, que do outro lado do rio Potomac, em Langley, na Virgínia, sede central da CIA, relatava o ataque à casa de Bin Landen. Ora, que todos nesta sala estejam como que subordinados à voz deste Supereu maluco e desgovernado que é a CIA, causa perplexidade. É como se o poder civil de um presidente estivesse de lado, aliás como a fotografia mostra muito bem. Na cadeira do presidente não está o presidente, mas sim o general da Força Aérea e comandante das Forças Especiais, Marshall B. “Brad” Webb. Aliás, cabe aqui uma brincadeira séria: para combater a rede al-Qaeda, nada melhor que um Webb [Rede]!!
Ora, a tosse de Hillary Clinton aponta para esta desarmonia evidente, mas não falada. A tosse fala, a tosse interrompe o gozo masculino, a tosse pede passagem, a tosse questiona, a tosse faz mancha neste quadro. A propósito, só há mais uma mulher na foto, Audrey Tomason, diretora da luta contra o terroristmo, em pé. Mas é Hillary Clinton quem tosse. Ela é a encarnação da feminilidade nesta tosse. Ao contrário do que pode parecer, sua tosse não é fingimento. Ela revela outra fragilidade em questão. A fragilidade de um poder civil nas mãos do poder militar.

“- Hillary Clinton disse que viveu os 38 minutos mais intensos da sua vida.
- B
ill Clinton respondeu: “Então comigo foi fingimento?”
Fonte: Daniel Paz e Rudy in Página 12, Buenos Aires, 9/5/2011.

domingo, 30 de janeiro de 2011

ESPELHO

Autorretrato de Jorge Luis Borges aos 50 anos, cego, a pedido de Burt Britton para sua coleção, no sótão da livraria Strand em Nova Iorque.

“Ele se aproximou, segurou-a pelos ombros para lhe fazer um agrado, uma brincadeira, e nesse momento se viu refletido num espelho.”

Anton Tchekov em A Senhora com o Cachorrinho in Lendo Tchekov de Janet Malcolm. Tradução de Tatiana Belinky, Ediouro, 2005, p.197.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A MORTE DE UM FILHO DA PUTA

Primeira página do Página 12 de Buenos Aires, 9 de novembro de 2010.

Como escrever o epitáfio de um filho da puta? O brilhante Página 12 de Buenos Aires responde em sua edição histórica de hoje, para ler, guardar, pregar nos postes de cada cidade: “O inferno é pouco”. Morreu o filho da puta, o assassino, o torturador, o líder do campo de concentração chamado Escuela Superior de Mecánica de la Armada (ESMA), paródia macabra de Auschwitz. Morreu o filho da puta que tingiu de sangue para sempre o Rio da Prata, cemitério transformado, leito das dores, dos membros disjuntos, torcidos e retorcidos, línguas cortadas, corpos dilapidados, mortos insepultos, sem direito a nome, à memória, ao luto. Filho da puta. Que seja jogado aos pedaços no mesmo rio que profanou. Filho da puta.