Mostrando postagens com marcador Psicologia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Psicologia. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de maio de 2011

PORCOS

“Sexo. Mentiras. Arrogância. O que faz homens poderosos agirem como porcos - sem querer ofender os porcos”
Fonte: Time, 14/5/2011.


A conservadora revista Time, espelho da América “profunda”, aquela dos grotões de onde sairam os bushes e as saras palins, decidiu soltar a franga. Em uma capa que recende a um certo feminismo em defesa das pobres mulheres, ela chama os homens de porcos. Assinada por Nancy Gibbs, a reportagem é bem feitinha, daquelas que tiram nota dez nas universidades, porém de uma ingenuidade e tolice comparáveis a uma jumenta, só para ficar no terreno da zoologia, o escolhido pela revista. Ela parte do pressuposto de que quem age como porco é porque o poder subiu à cabeça. Para defender esta tese, lá estão os especialistas de sempre fazendo o que melhor sabem fazer, ou seja, falar no lugar de quem não falou. Um psicólogo de uma Harvard qualquer, um biólogo evolucionista de uma Stanford da vida, mais uma pitada de “social commentators”, ou seja, sociólogos e outros logos, e voilà, ecce-homo, perdão, ecce porco. Porém, justiça seja feita, Nancy Gibbs ironiza de modo magistral a ridícula posição do jornal Le Monde nesse episódio, que estampou em sua manchete o bisonho “o que sabemos sobre a camareira?”, dizendo de modo explícito que a vítima foi a culpada, bem como traz as palavras da besta quadrada do filósofo Bernard-Henri Lévy, conselheiro espiritual do presidente Sarkozy e principal mentor da intervenção militar da França na Líbia, a “guerra do bem”, para “mostrar aos norte-americanos como se faz uma guerra limpa” - pasme o leitor que este asno se considera filósofo! E o que diz Bernard-Henri Lévy? Ele ficou indignado pela juiza norte-americana ter tratado Dominique Strauss-Kahn como “um qualquer”. Um horror para um francês bem nascido. Aliás, é nesse tom de “herói” que o Le Point apresenta sua capa: “a queda”, como se estivéssemos lidando aqui com um novo Adão – desta vez sem a folha de parreira, porque isso é coisa de pobre, isso é coisa de plebeu, coisa que não condiz com uma suíte imperial, convenhamos. Já o Le Nouvel Observateur compara o personagem a nada mais nada menos que Dante Alighieri! Pobre Dante, pobre Itália. Nós não merecemos isso. A grande graça é o não-dito de que o inferno em questão se chama Estados Unidos da América. Se fosse em Paris...


“A queda”
Fonte: Le Point, 19/5/2011.


“DSK – A descida ao inferno”
Fonte: Le Nouvel Observateur, 19/5/2011.

sábado, 28 de agosto de 2010

OS PSICÓLOGOS PERFURADORES EM AÇÃO

Fonte: Gustavo Hennemann in Folha de São Paulo, 24 de agosto de 2010.

A perfuratriz se chama Strada. Haverá nome mais lindo para uma máquina? Lá vai essa água mole, 15 metros por dia, fazer furo, perfurar, abrir buraco, fender a pedra, dividi-la, introduzir uma passagem, um caminho, fazer estrada onde não há. Pois esse é exatamente o trabalho dos psicólogos ali presentes, abrir a boca desses homens, fazê-los falar, conversar entre si, jogar a força do grupo contra o desamparo, o isolamento, a solidão abissal que ali se instalou. São psicólogos perfuradores, abridores de estradas, psicanalistas, behavioristas, terapeutas disso, terapeutas daquilo, que, ao avesso da bobagem de esquecer as diferenças, pelo contrário, é exatamente com elas que farão o melhor, gente brava, gente honrada, gente digna, que ali escavam também, que ali tentam dar a mão, dar uma escuta, dar uma rotina, oferecer uma vida ainda que inviável, ainda que desesperadora, ainda que improvável – a vida que há. A todos esses psicólogos, a minha homenagem.