“Assassino da Al-Qaida trabalhou para o MI6 [Serviço Secreto britânico], revelam arquivos secretos de Guantánamo – Um agente da Al-Qaeda acusado de atentados contra duas igrejas cristãs e um hotel de luxo no Paquistão em 2002, foi ao mesmo tempo agente da inteligência britânica (...)” - Fonte: primeira página do The Guardian, Londres, 26/4/2011. Reportagem de Declan Walsh, de Islamabad, com David Leigh, Jason Burke e Ian Cobain.
“As Forças Especiais - Quando um pastor de cabras consegue parar “Rambo” - O último fiasco dos comandos britânicos” Fonte: Enrico Franceschini in La Repubblica, 9/3/2011.
James Bond se revirou no túmulo. Shakespeare sorriu. Churchill está tentando sair. Henrique se agarrou de novo com Ana Bolena. A notícia espantosa correu o mundo, mas ganhou na Itália seu epitáfio épico. Um comando com membros das Forças Especiais britânicas, a infalível SAS (Special Air Service), desembarcou no deserto da Líbia para uma operação especial e, pela primeira vez em sua história, não conseguiu fazer nem a operação nem o especial. Falhou. A tempestade no deserto não foi tempestade. Já o deserto...foi deserto. Alguns pastores de cabras, munidos de cajados e outras armas especiais não reveladas – faca e canivete? Camelos? - conseguiram prender a tropa de elite inglesa. Vexame. Caos. Tsunami. E isso logo após a descoberta de que uma das melhores universidades do mundo, a inglesa London School of Economics, com 16 prêmios Nobel nas costas, 37o. lugar no ranking das tops, não só aceitou dinheiro sujo do ditador líbio Muamar Kadafi, como aprovou em seguida, Summa Cum Laude, o doutorado falsificado de seu filho. Terrível. Porém, se a universidade dói, a SAS mata. Apanhar de pastores de cabras definitivamente é o fim. Aguarda-se nas próximas horas a emigração em massa do Velho Continente. 2012 chegou antes do previsto. Perderam, playboys.
Ana Serguêievna, de São Petersburgo, casada com von Dideritz, um ortodoxo, da rua Staro-gontchárnaia, vai para Yalta, com seu cachorrinho da Pomerânia, e, ao andar como que envenenada, enlouquecida, encontra Dmitri Dmitritch Gurov, um filólogo que trabalha em um banco de Moscou, vão para o quebra-mar, desvão, um cais, e ela perfumada com um perfume comprado em uma loja japonesa, a umidade das flores, vê Gurov comer a melancia em seu quarto, e então a névoa de Oreanda, a estação de trem, o inverno, o teatro em São Petersburgo, da peça “A gueixa” ao “Bazar Eslavo” de Moscou. Começando.
Os apatetados príncipe Charles e sua mulher, Camilla, ao ter o carro atacado por estudantes furiosos em Londres. Fotografia de Matt Dunham/AP na primeira página do Globo, em 10 de dezembro de 2010.
“JOCASTA: Transtorno aterra a pólis toda quando ao leme vê um piloto acabrunhado.”
Édipo Rei de Sófocles na tradução de Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2001, p. 80.
O pintor Lucian, neto de Sigmund Freud, retrata seu neto Albie, um dos três filhos de sua filha Esther, em seu estúdio em Londres. Fotografia de David Dawson, cortesia de Hazlitt Holland-Hibbert na reportagem de Enrico Franceschini sobre Esther Freud in La Repubblica, 5 de setembro de 2010.
O bisavô, Sigmund Freud, inventou a psicanálise. O avô, Ernst, foi um grande arquiteto. O pai, Lucian, é um dos maiores pintores vivos. Ela, Esther, filha de Lucian, neta de Ernst e bisneta de Freud, é escritora. Enrico Franceschini foi a Londres escutar Esther Freud, além de presentear o mundo com esta carta de Freud a seu filho Ernst, em 1923 (abaixo reproduzida). Sensacional! De seu pai Lucian, com a fama de ter tido mais de 40 filhos, ao bisavô, Sigmund, para o qual ela declara não saber muito bem qual a influência que tem em sua vida, a despeito de ter se mudado recentemente para uma casa vizinha ao Museu Freud em Hampstead, Londres, Esther fala sem saber o que diz, diz mais do que gostaria, e recorda esta lembrança que seu pai gostava de contar sobre Freud: “Meu pai tinha 17 anos quando Sigmund Freud morreu. Ele lembrava do avô dizendo que ele era muito divertido. Tirava as dentaduras para ele e seus irmãos rirem e fazia piadas o tempo todo”. Franceschini conclui assim essa epifania dominical: “Às suas costas [de Esther], pendurada na parede, está uma grande fotografia: retrata seu pai, Lucian, pintando o retrato de seu filho, Albie. Em um ângulo da foto, no chão, se vê uma guimba de cigarro: “É a minha, eu estava sentada no chão do estúdio do papai, em Notting Hill, e lia o Hobbit para meu filho, para distraí-lo do longo tempo que estava sentado”. Ela silencia olhando o retrato. É o retrato de seu pai, o grande pintor? Ou de seu pai que retrata o seu filho, o mais pequeno dos Freud, ainda que traga o sobrenome do pai? Ou então quem sabe o verdadeiro sujeito desta imagem é aquele fora do quadro, é aquele que olha do exterior, é ela, Esther Freud? “Talvez este seja o retrato de todos nós. Eu não pensei que mais de uma geração de nossa família estivesse reunida juntas, na mesma casa”. Casa Freud. A casa que Esther enfim encontrou e parou então de sonhar [com ela]”. Pois há um outro sujeito bem explícito nessa fotografia: Sigmund Freud. Da psicanálise à arquitetura, à pintura, à literatura. Transmissão.
“A escola imbeciliza”. Na carta a seu filho Ernst, a finíssima ironia de Freud para com a educação: “Em casa, tudo bem. Anna é sem dúvida muito alegre, ainda que não veja em seu futuro nada que deseje. Heinele cresce bem, em geral, e nós só tememos se sua escola não vai conseguir transformar em imbecil também a esta criança. Harry se recupera da icterícia por causa de uma gripe”. Outro detalhe, a marca registrada nas despedidas de Freud em suas cartas: “De resto, Viena é muito repugnante”. Fonte: carta de Sigmund Freud a seu filho Ernst, em 5 de fevereiro de 1923 in La Repubblica, 5 de setembro de 2010.
Beryl Bainbridge por Dmitri Kasterine em Londres, 1977, na retrospectiva de seu trabalho na National Portrait Gallery, Londres, de 11 de setembro a 3 de abril de 2011.
O que é esse retrato de Beryl Bainbridge pintado, esculpido, surpreendido, capturado por esse ferreiro chamado Dmitri Kasterine? Essa mulher com nome de ponte, amante das palavras cruzadas, das palavras sussurradas, das palavras escritas, das palavras cantadas, essa mulher só pode ser aquilo que Keats disse uma vez assim, a thing of beauty is a joy for ever, tão lindo isso, o que há de belo nessa mulher, é para sempre, há de ser for ever a jóia, joy, minha alegria.
“Vauxhall 2003” de Roger Hiorns. Aço e instalação de fogo na Tate Britain, Londres, 2003. Fotografia Tate Photography, David Lambert/Rod Tidman, cortesia Corvi-Mora, Londres.
“He is an artist of emissions, of excesses, of the uncontrollable” [“Ele é um artista das emissões, dos excessos, do incontrolável”] Adrian Searle sobre o artista Roger Hiorns in The Guardian, 4 de setembro de 2008.