Fotografia de Hilary Duffy no Mali, próximo a Timbuktu, durante o Festival au Desert, em 8 de janeiro de 2011 in The New York Times, 27/2/2011.
“Mas quando a senhora se sentou à mesa vizinha, a três passos dele”
Anton Tchekov em A Senhora com o Cachorrinho in Lendo Tchekov de Janet Malcolm. Tradução de Tatiana Belinky, Ediouro, 2005, pp.183.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
domingo, 27 de fevereiro de 2011
ÁFRICA
“Portrait d'une jeune tunisiénne” [Retrato de uma jovem tunisiana] de Lehnert & Landrock, c. 1910.
Ana Serguêievna.
Ana Serguêievna.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
TOBRUK
Um regimento dos granadeiros italianos desembarca em Trípoli entre 10 e 12 de outubro de 1912. Fotografia in La Repubblica, 25/2/11.
Eu sou um Afrika Korps. Estou em Tobruk. Meu sangue alemão dos Schmitz e dos Schwertners ferve, arde, quer vingar meu avô italiano ferido neste deserto, picado por um escorpião feroz. Foi em 1920 quando ele desembarcou na Líbia, transferido para as Tropas Coloniais em Trípoli. Durou 2 anos no deserto inclemente até que um escorpião o picasse. Ele sobreviveu à picada. Eu não. Eu sucumbi, eu padeço, eu grito esta dor. Eu manco. Meu avô derrotado por um escorpião. Inaceitável. Eu embarco agora nos Afrika Korps, eu luto em alemão para vingar os italianos humilhados, os italianos aprisionados. É outra guerra, você já está no Brasil, não importa. Eu viro um rato do deserto, logo eu, um leão, mas eu comando todos os Panzers, eu os faço correr, eu mato, eu venço. Ali onde meu avô sucumbiu, eu conquisto. Ali onde meu avô não foi, eu agora herói, eu Wüstenfuchs, raposa, o marechal de campo, O Libertador, Eu, Erwin Rommel, Führioso. Não haverá mais escorpiões neste deserto vermelho, esburacado, revirado, cemitério a céu aberto. É por você, vovô, é para você. Blitzkrieg. Eu construo falsos tanques com pedaços de árvores e restos de carros, eu, o rei das ilusões, eu ponho os ingleses para correr, amedrontados, despedaçados, ossos espalhados pela areia. Perguntem pelo meu nome em Mersa Brega, em Tripolitania, em Cirenaica, em Benghazi. Perguntem por mim em Bardia, em Salum, em Tobruk. Querido nono, é o que eu te ofereço. Nenhum ferrão irá mais te machucar. Eu, ferreiro, asseguro.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
CIFRA
Fotografia AFP/ONG OneDayOnEarth in El País, 24/2/2011. Homens cavam fossas comuns para as vítimas da repressão em Trípoli, na Líbia.
2011/2/20. Morto sem nome. Resta a cifra. Nem rosto, nem filho, nem pai, conhecido nenhum, mãe não vista. Morto sem pranto. Uma cifra inscrita num espelho. É o que furou a pedra. Números. Letras não. Esse Yorick não será mais identificado. Nada além da cifra. 2011/2/20.
2011/2/20. Morto sem nome. Resta a cifra. Nem rosto, nem filho, nem pai, conhecido nenhum, mãe não vista. Morto sem pranto. Uma cifra inscrita num espelho. É o que furou a pedra. Números. Letras não. Esse Yorick não será mais identificado. Nada além da cifra. 2011/2/20.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
RATOS
Fonte: primeira página da Zero Hora, 23/2/2011.
Depois da saída de George W. Bush da presidência dos Estados Unidos, eu estava com saudade dos grandes filhos da puta. Na categoria dos filhos da puta, há os pequenos filhos da puta e há os grandes filhos da puta. Kadafi pertence a esta divisão. “Capturem os ratos. Tirem-nos de suas casas e acabem com eles, onde quer que estejam”. É a frase do ano. Nunca antes se ouviu coisa parecida. Aliás, relembrando Lacan, quando um ditador começa a falar de ratos, sem querer, está falando de si mesmo - é o que significa receber a própria mensagem de forma invertida. Ora, qual é a maior arma deste pútrida, deste calhorda perigosíssimo? São exatamente esses esfomeados, estropiados, esses fodidos que ele carinhosamente chama de “ratos” - em um outra variante, ele os chama de “agentes do imperialismo ianque”. A Itália e a Europa acompanham em pânico o desfecho desta revolução. Há o pavor de que, como vingança, essa ratazana-mor que se pensa gato abra as comportas para que os “ratos” invadam o continente europeu através da ilha de Lampedusa. Hordas de “ratos”, milhares de “ratos” se espalhando no meio de armanis e pradas, chanéis e mercedinhos, à procura de comida, à procura de abrigo, à procura do paraíso de Dante. Um terror, um pesadelo inimaginável. Ontem o fascista de plantão, Umberto Bossi, uma espécie de Kadafi-dois-ponto-zero, representante de todas as indústrias da parte norte da Itália, a parte “nobre”, cujo único projeto em 63 anos de república foi o de cortar fora a parte “sul” do país, os “miseráveis”, os “vagabundos” do sul, gritava enlouquecido que iria mandar os “ratos” africanos para a Alemanha – que a “sua” Itália não merece isso. Não é banal verificar mais uma vez a falta de memória histórica presente em todo fascista? Como assim a Itália não merece isso? Depois do que a Itália fez na Líbia durante as duas grandes guerras, quando a invadiu, a bombardeou, a sacaneou de todas as formas possíveis, a Líbia invadir a Itália é pouco. Eu torço para que isso aconteça. Que essa Itália fascistinha, que essa Itália narcisista seja arejada pela África, que aconteça com a Itália o que aconteceu com o mundo quando seus miseráveis vieram como imigrantes. Afinal de contas, um país que mantém Silvio Berlusconi no poder pode dizer o que de Kadafi? Nada. Que venham os africanos. É o que de melhor pode acontecer com a Itália.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
PRESENTE
Fotografia de Igor Savchenko em Minsk, na Bielorrússia.
Passeiam.
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