Então a tropa de elite dos Estados Unidos deu o nome de código “Gerônimo” para se referir a Bin Laden. Ora, Gerônimo não merece esta associação. Gerônimo nunca foi terrorista. Gerônimo foi líder dos apaches, foi o homem que disse não aos espelhinhos que o governo dos Estados Unidos da América ofereceu como compensação pela apropriação à força de todas as suas terras e o genocídio programado de todo o seu povo. Não deixa de ser interessantíssimo se perguntar por que escolher este nome de código e não outro. Não haveria aqui o reconhecimento, mesmo que inconsciente, de que ao lidar com Bin Laden se está lidando com alguém que não encarna só a figura do bandido, do assassino, do mal, mas também alguém que se rebela, que se revolta, que se indigna contra a invasão de suas terras, a morte de seu povo? Aliás, a decisão dos Estados Unidos de, à la Argentina da pior ditadura militar, jogar o corpo de Bin Laden no mar levanta muitas questões. A mais antiga delas vem de Sófocles, que em Antígona faz Tirésias dizer ao governante Creonte o seguinte: “poupa esse cadáver. Pode ser façanha assassinar um morto?” (fonte: Antígona de Sófocles, na tradução de Guilherme de Almeida in Três Tragédias Gregas, de Guilherme de Almeida e Trajano Vieira. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 78). Os Estados Unidos decidiram não poupar o cadáver, parece que com o medo de que a cova em que ele fosse enterrado se transformasse em uma espécie de santuário. O problema dessa decisão é que ela igualou o ato do terrorista com o ato de um Estado não terrorista. É próprio da definição de terrorismo o sequestro de um corpo sem a devolução dele para a família. Qualquer Estado em que haja desaparecidos em sua história, como o Brasil, é um Estado que já foi governado por terroristas. Voltando a Gerônimo, ele morreu como prisioneiro de guerra dentro de um forte apache, dentro de instalações militares do governo dos Estados Unidos. Gerônimo não foi assassinado depois de morto.
Maravilhoso texto. Li sobre a vida desse destemido Gerônimo que nãoa ceitou o massacre dos brancos.
ResponderExcluirabraços!
Querida Marta, obrigado. Tu dissestes bem: ele não aceitou. Se tivesse aceitado, quem sabe seria nome de presidente!! Um abraço.
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