Fonte: Mosi Secret in The New York Times, 28/3/2011.
Não é uma cobra americana, cobra criada, cobrinha de jardim. É uma cobra egípcia, uma cobra exótica, uma cobra africana, uma cobra do deserto, uma cobra-Outra, uma cobra estrangeira. Não é a pantera de Rilke, aquela esmorecida, arrefecida, morta no coração, um resto de pantera, nada-pantera. Essa é uma cobra escolhida por uma rainha, nada mais, a cobra de Cleópatra, adolescente desta vez, mas essencialmente africana, ardentemente africana, trazida à força de lá, trazida à ferros. E ela fugiu. Nova Iorque em pânico de novo, cidade assustada, mais uma vez cobre todas as suas portas, fecha todas as janelas, convoca todas as forças armadas, uma cidade morrendo de medo da cobra venenosa. O estrangeiro só fascina quando controlado, quando manietado, quando fechado entre quatro paredes. O estrangeiro livre é um perigo – ele não obedece mais. A cobra egípcia desliza agora à procura do deserto. Ela tem sede do deserto, ela tem fome do deserto, ela deseja o retorno. Lá, nas dunas, lá, no sereno da madrugada, lá no calor da miragem, lá é seu destino. É lá que a esperam. Lá vai a cobra egípcia, para bem longe de quem um dia a quis bibelô, a quis adereço, a quis só para fotografia. A cobra egípcia vive.
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