Crianças passam por testes de controle de radioatividade em Koriyama, área de evacuação da central nuclear de Fukushima. Fotografia de Kim Kyung Hoon/Reuters in El País, 13/3/2011.
O Japão é um fiasco. Esqueça a mitologia reproduzida na mídia sobre um povo educado, inteligente, preparado, resistente e que é capaz de tudo – e quando a mídia brasileira escreve e mostra isso, ela está gritando nas entrelinhas, “ao contrário do Brasil, burro, despreparado, desorganizado, uma zona”. O mesmo país que consegue montar um automóvel Toyota ou Honda em 5 minutos é o país que jamais conseguiu pedir perdão e iniciar uma reles indenização à China pelas atrocidades cometidas em Nanquim – mais de 20 mil mulheres estupradas e feitas escravas sexuais pelas tropas japonesas de ocupação. O mesmo país que nos deu o magnífico Akira Kurosawa e seus sete inesquecíveis samurais – ali está o melhor retrato de um outro Japão – é o país que nos dá essa irresponsável decisão de construir mais de 50 reatores nucleares sobre terreno movediço, sob risco de terremoto, sob risco de tsunami. Isso não é inteligência. Isso é desaforo, isso é o que os gregos chamavam de húbris, desmedida, desafio louco, arrogância estúpida. Eu não admiro a professorinha do jardim de infância que com uma única palavra “terremoto” consegue organizar a fila ordeiramente, corretamente, tranquilamente de todas as crianças da sala de aula. Eu não admiro ninguém correndo pelas ruas desesperado. Essa mesma ordem, eficácia e obediência é a razão pela qual esse tormento nuclear acaba de explodir. 50 reatores nucleares e ninguém protesta, ninguém se move contra uma empresa gananciosa e um governo podre? 50 reatores nucleares e não se vê nenhuma greve, nenhum quebra-quebra, nada nas universidades, nada nos centros de pesquisa, nada nos bares, nada nas vilas, nada em Tóquio? Fiasco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário