Líbios inspecionam um F-15 norte-americano que caiu em Bu Mariem. Fotografia de A.Niedrighaus/AP in El País, 23/3/2011.
Um F-15 espatifado, um F-15 despedaçado, um F-15 partido. Isso não poderia ter acontecido, se acontecido não poderia ser fotografado, se fotografado não poderia ser exibido, se exibido eu não poderia ter visto. Tudo, menos isso. Esta é a fotografia do fracasso irremediável, do que não é mais, do avesso de um F-15, a morte seca – bem longe da tua respiração barulhenta, teu ronco lindo a romper o céu, doce cantiga de ninar, a velocidade da luz, o limite incomensurável, o ultrapassar daquilo que se chama distância, a força em movimento contínuo, vitória régia. Um F-15 no céu é a obra-prima do ferreiro, com suas tenazes, com seu martelo, na forja, deu a vida por essa máquina perfeita, máquina valente, máquina formidável – ele é seu filho brilhante, seu filho estrela, seu filho constelação, seu filho imbatível, um colosso. Um F-15 não pode cair, um F-15 não pode ser derrubado, um F-15 não pode deixar de existir. Isso não aconteceu. É montagem, é propaganda de guerra, é mentira deslavada. Eu não aceito isso. Eu recuso. Mas minhas lágrimas me traem, me fazem recolher esses restos e dizer para quem quiser ouvir, meu pobre Yorick. Eu o construí para me continuar, com toda a infinita graça, a espantosa fantasia. Mil vezes me carregou nas costas – onde andam agora tuas cambalhotas? Eu jazo contigo, meu filho. Bu Mariem é nosso túmulo.
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